quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Para quem serve a arte?

A arte só serve pra pessoas que choram.

A arte só serve pra pessoas que precisam esquecer alguém.

A arte só serve pra pessoas que não agüentam a vida.

A arte só serve pra pessoas que querem extrapolar a realidade.

A arte só serve pra pessoas que sentem curiosidade.

A arte só serve pra pessoas que querem sentir prazer.

A arte só serve pra pessoas que querem lembrar.

A arte só serve pra pessoas que vêem beleza na vida.

A arte só serve pra pessoas que sofrem.

A arte só serve pra pessoas que precisam fugir do cotidiano.

A arte só serve pra pessoas que querem dizer algo e não conseguem.

A arte só serve pra pessoas que querem conhecer outros mundos.

A arte só serve pra pessoas que precisam se conhecer.

A arte só serve pra pessoas que..., pra pessoas.

domingo, 15 de agosto de 2010

Reflexões na pista de dança

Dançando...

Lama no pé, suor no corpo, fumaça no cabelo, sabão na alma.

Alma lavada, alma suja, alma livre, sem alma, existe alma?

O efêmero que satisfaz, que alegra, não tem finalidade, mas faz todo o sentido.

Fugindo...

O coração seguindo o ritmo da música é melhor que o coração apertado, soltar o corpo é melhor do que deixar ele parado, a mente em branco é melhor do que ela cheia de vozes que não se encontram, estar fora de si é melhor do que estar preso em si.

Às vezes a culpa é melhor que o medo.

Vivendo.

Você é

Milhões de pessoas que existem dentro dessa palavra.

Assim como o EU também podem ser muitos.

Não há construção de história, não há sentimentos sem nós dois, seja lá quem formos.

O que eu gosto mesmo é de falar pra você, nem que esse você seja eu, afinal eu também preciso ouvir certas coisas.

Vamos conversar todos nós, você, eu e essas três ou quatro vozes na minha cabeça.

Todos nós precisamos ouvir.

Todos nós precisamos nos expressar.

Todo mundo precisa escrever e ser escrito.

Somos todos passíveis de ser musa e poeta.

Você e Eu, somos os únicos personagens de qualquer história.

É só escolher em qual se encaixar.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Narrativas

Ela depositou todos os seus sonhos em alguém mais uma vez. Ele parecia tanto com um príncipe encantado, ele agia como um, falava como um, era o mais próximo que ela havia visto de um, então ela se convenceu de que ela o havia encontrado. Ela só esqueceu que príncipes não existem, e por trás do seu conto-de-fadas só poderia haver drama ou comédia, era só escolher, talvez um pouco de conto erótico, tudo dependia pra onde ela iria levar.

Cansada dos contos eróticos, dos dramas e das comédias ela se esforçou pra protagonizar um romance, mas não reparou que ninguém a veria como a mocinha e era tarde demais pra mudar uma história cujo começo já estava escrito.

Seu príncipe partiu seu coração, mas ela insistiu, confundiu coragem com cabeça-dura e achou que era uma heroína. Se convenceu de que outra que era a vilã, loiras sempre são, e não olhou direito para o seu personagem. Na segunda gafe do príncipe ela viu seu conto destruído e os rumos de drama que a estória havia tomado. Pensou em todas as possibilidades, inclusive em transformá-la em roteiro de telenovela mexicana, como choros, escândalos, exposições e nomes compostos, mas ela não suportaria uma dublagem mal feita da sua vida. Então percebeu que aquele conto de fadas, sem príncipe, sem princesa, sem seres encantados, na verdade não era. Chegou no máximo a ser um piloto de seriado americano, um projeto falido. Nem ela investiria na sua estória. Cansada desses gêneros resolveu abandonar e ir atrás de algo novo.

Quem sabe um dia sua vida se transformaria em poesia.

Passagens da madrugada

Pá! O barulho alto de algo pesado caindo, e todas as pessoas, aproximadamente uma dúzia, no ônibus se viram para olhar. Às três horas da madrugada é normal encontrar bêbados em qualquer transporte púbico, mas ninguém esperava ver o corpo de um homem adulto no meio do corredor, porque acabara de cair do banco na curva. Alguns segundos de silêncio pra poder entender o que estava acontecendo, e um jovem que estava sentado no banco de trás se levanta pra ajudá-lo, e o homem que estava sentado ao lado do bêbado também se coloca no serviço de devolvê-lo ao lugar. O corpo mole e obediente se aninha feliz, apoiado no corpo do seu companheiro de banco, um homem grande que ocupava mais que a parte do espaço que lhe cabia.
Antes que todos voltem aos seus assuntos normais da viagem, mais alguns segundos sem se olhar pra poder controlar o riso, a desgraça do outro não deveria ser engraçada, mas era. A cada curva o corpo balançava, e todos olhavam, até que perceberam que nada mais ia acontecer e o bêbado deixou de ser o entretenimento. Mas aquela era sua noite, ganhou mais uma vez a atenção quando pegou o celular e começou a falar uma mistura de sílabas, aonde poucas se tornavam palavras. A sorte do alvo da ligação era que provavelmente ele não tinha conseguido discar os números. O celular e a mão viraram o recheio do sanduíche que ele fazia com a cabeça e o ombro e permaneceram assim mesmo depois que ele havia desistido de emitir sons.
De volta as conversas, até o novo: Pá! O riso de descrença veio antes dessa vez. O jovem do banco de trás mais uma vez se levantou para ajudar, assim como outro rapaz de um banco mais afastado. O companheiro do bêbado dessa vez estava dormindo. O novo tombo era mais preocupante, o rosto foi direto no chão. Quando foi levantado era possível perceber a roupa imunda e o rosto machucado. As dores que ele sentiria assim que o álcool deixasse de fazer efeito não faziam nem cócegas no momento. Tentando evitar outra queda os dois rapazes o colocaram no banco do outro lado que estava com os dois lugares vazios. Difícil foi arranjar um lugar pra colocar o celular que havia voado para longe, pois o dono estava incapaz de segurar, por fim acharam um bolso e deixaram ali.
E quem disse que bêbado não sente nada? É um estado no qual o emocional aflora e a pessoa fica extremamente carinhosa/carente. Nem cinco minutos depois que o sujeito foi deixado no banco ele acordou, percebeu a solidão e voltou para compartilhar o banco apertado com o seu companheiro. Para se certificar de que permaneceria ali, entrelaçou o seu braço no dele, e apoiou a cabeça no seu ombro. E assim ficaram até o ponto final. Chegando ali o jovem cutucou os dois para que se levantassem. Eles apenas se mexeram, mas continuaram ali, um entorpecido casal.
- Será que ele vai tentar lembrar como conseguiu esses machucados amanhã? – perguntou uma das garotas que estava com o jovem.
- Espero que não lembre. Dos efeitos do álcool, a amnésia é o melhor.