terça-feira, 20 de julho de 2010

Uma menina boba

- Não seja tão boba. – o sorriso no rosto dela morreu.

- É inevitável.

- Você poderia pelo menos não ser tão inocente, tão simples. – a expressão dele dava sinais de irritação como se estivesse falando de um animal que fazia muito barulho.

- Não entendo sua paixão pelo complicado. É insatisfação isso? – um sorrisinho pra tentar salvar o orgulho.

- Olha quem fala, como se você estivesse muito satisfeita com a vida.

- Pelo menos eu estou tentando deixar ela mais simples.

- Mentira! Você só esta perto de mim porque eu sou mais complicado do que você e isso te faz sentir bem. – ela reclamou mentalmente por ele ser tão esperto e por ela ser tão fácil de entender.

- Você é azedo. – saiu assim como uma constatação óbvia, não como uma reclamação ou uma acusação.

- E você é doce demais. – no mesmo tom.

- Quem diria...

- As pessoas enxergam aquilo que querem, nunca menti pra que pensassem diferente. – ela podia visualizar um cigarro na mão dele, pra completar o ar de indiferença, isso se ele fumasse.

- Isso não quer dizer que foi verdadeiro. – mais um sorriso triunfante.

- Está vendo, você não é tão boba, se esforce mais. - ele se levantou. – Um bom dia pra você, preciso ir agora. – maldita educação! Enquanto ele saía da sala, os únicos movimentos que ela fez foram com os lábios, sem emitir som, mas que diziam claramente F-U-C-K-Y-O-U.

domingo, 11 de julho de 2010

Não adianta procurar pelo príncipe encantado se você não é uma princesa.

domingo, 4 de julho de 2010

Fonte seca

Você tirou até minha vontade de escrever, de tão sem poesia que você é. Nada de profundo, nada, nada de belo, nada que possa ser expresso, nada disso há em você.

Você abafa meus sentimentos, sufoca minha paixão, mata o meu lirismo.
Como é possível que você possa roubar minhas palavras, meus pensamentos, minha inspiração?

Se eu não me forço me entregaria de novo ao vazio que há ao seu redor, seria sugada pelo buraco negro de idéias e estaria mais uma vez presa na sua superficialidade.

Sua presença seca minha alma e deixa no lugar um corpo árido e estéril.
E o que mais me revolta é que até mesmo esses efeitos, você ignora.
E eu sinto que está sem final.

Cold Shoulder

Certas músicas nos lembram alguns momentos, já outras músicas nos fazem criar momentos:


Corpos ainda juntos, suados, cansados. Uma conversa descontraída, com poucas palavras, própria praquele momento, até que:
- Só não se acostuma tá.
Ela se afasta, pra olhar melhor com uma cara de indignação e surpresa, porque aquela frase do nada? Ele continuou:
- Você vai ter que dividir.
Pro ar pretensioso dele ela soltou uma gargalhada. E falou com um sorriso que só podia ser chamado de safado.
- Eu não tenho problemas em dividir, se você também não tiver. Até porque nunca falamos em exclusividade.
Silêncio. Mais alguns minutos e se levantam vestindo a roupa. Ele tentando decifrar a reação dela, e ela com a melhor cara de que nada aconteceu, mas por dentro querendo matar aquele idiota insensível. Porque jogar na cara? Ele também tinha que dividi-la, mas ela fazia questão de esconder. Ele estava cada vez mais incomodado com o silêncio do ritual de arrumação:
- Tudo bem? No que você está pensando?
- No meu brinco que eu perdi agora.
- É só um brinco.
- Mas eu gostava muito dele, se você achar meu brinco de pena depois me avisa.
Seguiram pra casa dela, conversando mais uma vez como se nada tivesse acontecido. Conversavam sobre questões filosóficas sobre a vida e sobre o que acreditavam ser características pessoais. Como dois amigos ou apenas conhecidos, exatamente como ele sempre a tratava fora do quarto. Apesar dos seus sentimentos ela já havia aceitado. No entanto ele tinha necessidade de reforçar esse afastamento com palavras. Chegaram na frente da casa dela, prontos pra despedida, quando mais uma vez ele abriu a boca pra machucar:
- Se tudo der certo eu vou estar namorando na quarta-feira.
- Como assim tudo der certo?
- Eu vou encontrar minha ex-namorada, e vou pedi-la em namoro de novo, ainda não a esqueci.
- Acontece. – O que ele queria ouvir? Boa sorte?
Despediram-se, quase como se fossem amigos. Ele querendo afastá-la, ela querendo matá-lo. Um nó na garganta dos dois. Não entendiam como podiam ser tão frios.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Degelo


"I never loved nobody fully
Always one foot on the ground
And by protecting my heart truly
I got lost
In the sounds "
Foi de fora pra dentro o processo.
Demorou anos, e exigiu um trabalho duro.

Toques quentes, beijos ardentes, momentos fervorosos,
e o coração de gelo foi derretendo.
No lugar restou uma massa pulsante, ardente, vermelha
com necessidade de ser alimentada pelo calor externo.

Fica a saudade de quando ele podia existir sozinho,
de quando o gelo ao redor protegia de tudo,
de quando paixão e romance eram palavras de livros bobos
e o frio e a solidão eram uma certeza.


Ouvindo: Fidelity - Regina Spektor