quinta-feira, 28 de outubro de 2010

El tiempo

Duas horas da manhã e ela não conseguia pregar os olhos, não conseguia dormir, não conseguia fazer o seu trabalho, não conseguia limpar o quarto, estava imóvel, entregue a inutilidade. Era essa a rotina dos seus dias. Cada instante ocupado com pensamentos sobre ele, o seu mais novo amor impossível.
Ela já estava começando a se questionar sobra a força e a veracidade dos seus sentimentos, parecia que ela estava apenas trocando de sonhos, colocando alvos cada vez mais distantes. Era uma versão piorada de uma adolescente de doze anos apaixonada pelo cantor pop. Ela podia falar com as pessoas que ela queria, as vezes tocar, em alguns casos, depois de várias armações até mesmo beijá-las, mas jamais se transformariam em um relacionamento. No entanto, o pouco contato que ela conseguia não deixava a esperança morrer. Idiota. Se apaixonar por Johnny Depp seria mais inteligente da sua parte, ninguém gasta horas tentando puxar assunto com ator, porque nunca falaria com ele mesmo.
Três horas da manhã, ela já tinha desistido de dormir, vinho e música lhe fizeram companhia, sempre a música, sempre o álcool, a esperança é que até as quatro ele já tivesse feito efeito e ela dormiria sem pensar.
Três e meia uma mensagem depressiva para o seu melhor amigo, aquele que ela não tinha vergonha de agir como uma ridícula.
Quatro horas, dorme finalmente, passa a noite toda com ele nos seus sonhos, em nenhum momento ela fica sozinha, em nada ela se livra dele (ou seria dela mesma, com essa louca obsessão?).
Onze horas da manhã, ela acorda com um sorriso no rosto, falando, alegrando, divertindo a sua volta, escondendo aquele ser que era na madrugada, separando dos outros a sua sombra, fingindo que era só luz.

domingo, 17 de outubro de 2010

Comigo

“Fica aí, senta, bebe mais uma, só pra me fazer companhia.”

“Era justamente você que eu estava procurando, eu sei, não é sua culpa, eu que andei me escondendo mesmo, estava com medo de você, é que tem dias que você está tão insuportável que até eu te odeio.”

“ Essa coisa de você não saber o que quer me deixa maluca, prefiro andar com gente mais segura, ou pelo menos lidar com eles parece mais fácil. Mas hoje você está legal, e isso me faz lembrar do quanto eu gosto de você e dos nossos momentos assim”

“ Mania chata a minha de achar que só porque estamos só nós que estamos sozinhas. Aqui no nosso canto nos entendemos.”

“Eu queria te pedir desculpa por ter te dado tão pouco valor, e ter reclamado de você pra quem quisesse ouvir, assim eu só vou afastar os outros, eu sei. Se você guarda tão pouco rancor dos outros, não é de mim que você vai guardar né?”

“Vamos aproveitar que temos esse dia. Vamos relembrar o que há de melhor na gente. A gente tem muita história pra contar, muita coisa que ainda não foi conversada direito. Toma mais essa”

Em um ato de saudação ela levantou o copo para o seu reflexo no espelho.

sábado, 16 de outubro de 2010

Friends

Um pouco diferente do que eu costumo escrever.

Nasci em uma geração pós-Friends, e fui profundamente marcada por isso, assim como muitas pessoas que eu conheço. Nós somos aqueles que não amadureceram com eles, porque quando a série acabou éramos adolescentes ainda, nós não nos sentíamos um deles, eles eram modelos para o nosso futuro. A questão ali não era só o humor, as piadas, as situações engraçadas, era a amizade, o companheirismo. Quem não gostaria de compartilhar ao começo da vida adulta com os seus melhores amigos? Quem não gostaria de ter com quem contar nas horas difíceis sem ter que correr para os pais? Quem não gostaria de ter segurança em um grupo de pessoas que te apoiariam, mas que ao mesmo tempo saberiam fazer piada de tudo aquilo? Friends representava o processo de transição perfeito entre a vida com os pais e a constituição da própria família. Era a independência, liberdade, sem a insegurança de estar sozinho, ou de ter que cuidar de outras pessoas. Era saber que qualquer situação poderia ser encarada com humor ao invés de dores de cabeça. Era o sonho de qualquer adolescente.
Acredito que assim como eu, a maioria acreditava que seria apenas isso, um sonho. Em uma realidade brasileira onde a maioria só sai da casa dos pais para se casar, dividir um apartamento com amigos parecia meio estranho, distante demais. Alguns dos que tinham que sair de casa antes para trabalhar ou estudar relatavam como uma parte difícil da vida morando com pessoas desconhecidas. Para mim Friends não passava de uma ilusão.
Foi aí que eu tive uma boa surpresa da vida. Tive que morar na cidade vizinha para fazer faculdade. As primeiras experiências realmente foram próximas ao que eu esperava, uma tortura. Um obstáculo a vencer para poder estudar. Até que fui conhecendo pessoas que pareciam ter os mesmos ideais que eu, que tinham a mesma vontade de fazer a convivência dar certo e ir além. Nós seis (sim! Totalmente Friends) que nos demos tão bem conseguimos encontrar um apartamento para dividir e os dias que seguiram foram de uma felicidade que iria além de qualquer imaginação. Tudo que eu buscava encontrei ali: amizade companheirismo, apoio, diversão, motivação.
Essa é a minha vida agora, a melhor fase de transição. Cada dia é uma coleção de risos uma aprendizagem em conjunto, uma troca de experiências onde a minha vida não é só minha é compartilhada com pessoas que se importam, que dividem amor.É repleta de piadas do Chandler, de futilidades da Rachel, de viagens da Phoebe, de obsessões da Mônica, de nerdices do Ross e de cantadas do Joey.
É uma experiência repleta de sentimento, aquela ligação abstrata e incrivelmente forte que havia entre eles é perceptível onde eu moro. O lugar onde tudo se resolve, onde o choro vira riso, onde vidas que nunca se encontrariam fazem todo o sentido porque estão juntas.
Pode parecer boba, mas sou apaixonada por essa letra: i'll be there for you