sábado, 27 de novembro de 2010

Estátua

Por favor não chora! Não faz essa cara.
Não me deixe ver seus olhos cheios de água.
Você não pode ter sentimentos.
Você não pode ser humana.
Eu preciso te odiar.
Me diz que é só tédio.
Me diz que não é tristeza, não é cansaço, não é fraqueza.
Se você tiver falhas eu não posso te odiar, eu posso não querer o seu mal.
Dê mais um dos seus sorrisos falsos de cera.
sustenta essa máscara.
Eu quero poder tacar pedras em você sem te quebrar.
Eu quero você em aço.
Eu quero você monstro e eu heroína.
Eu quero ser só bondade e você a maldade.
Assim eu me preservo.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

El tiempo

Duas horas da manhã e ela não conseguia pregar os olhos, não conseguia dormir, não conseguia fazer o seu trabalho, não conseguia limpar o quarto, estava imóvel, entregue a inutilidade. Era essa a rotina dos seus dias. Cada instante ocupado com pensamentos sobre ele, o seu mais novo amor impossível.
Ela já estava começando a se questionar sobra a força e a veracidade dos seus sentimentos, parecia que ela estava apenas trocando de sonhos, colocando alvos cada vez mais distantes. Era uma versão piorada de uma adolescente de doze anos apaixonada pelo cantor pop. Ela podia falar com as pessoas que ela queria, as vezes tocar, em alguns casos, depois de várias armações até mesmo beijá-las, mas jamais se transformariam em um relacionamento. No entanto, o pouco contato que ela conseguia não deixava a esperança morrer. Idiota. Se apaixonar por Johnny Depp seria mais inteligente da sua parte, ninguém gasta horas tentando puxar assunto com ator, porque nunca falaria com ele mesmo.
Três horas da manhã, ela já tinha desistido de dormir, vinho e música lhe fizeram companhia, sempre a música, sempre o álcool, a esperança é que até as quatro ele já tivesse feito efeito e ela dormiria sem pensar.
Três e meia uma mensagem depressiva para o seu melhor amigo, aquele que ela não tinha vergonha de agir como uma ridícula.
Quatro horas, dorme finalmente, passa a noite toda com ele nos seus sonhos, em nenhum momento ela fica sozinha, em nada ela se livra dele (ou seria dela mesma, com essa louca obsessão?).
Onze horas da manhã, ela acorda com um sorriso no rosto, falando, alegrando, divertindo a sua volta, escondendo aquele ser que era na madrugada, separando dos outros a sua sombra, fingindo que era só luz.

domingo, 17 de outubro de 2010

Comigo

“Fica aí, senta, bebe mais uma, só pra me fazer companhia.”

“Era justamente você que eu estava procurando, eu sei, não é sua culpa, eu que andei me escondendo mesmo, estava com medo de você, é que tem dias que você está tão insuportável que até eu te odeio.”

“ Essa coisa de você não saber o que quer me deixa maluca, prefiro andar com gente mais segura, ou pelo menos lidar com eles parece mais fácil. Mas hoje você está legal, e isso me faz lembrar do quanto eu gosto de você e dos nossos momentos assim”

“ Mania chata a minha de achar que só porque estamos só nós que estamos sozinhas. Aqui no nosso canto nos entendemos.”

“Eu queria te pedir desculpa por ter te dado tão pouco valor, e ter reclamado de você pra quem quisesse ouvir, assim eu só vou afastar os outros, eu sei. Se você guarda tão pouco rancor dos outros, não é de mim que você vai guardar né?”

“Vamos aproveitar que temos esse dia. Vamos relembrar o que há de melhor na gente. A gente tem muita história pra contar, muita coisa que ainda não foi conversada direito. Toma mais essa”

Em um ato de saudação ela levantou o copo para o seu reflexo no espelho.

sábado, 16 de outubro de 2010

Friends

Um pouco diferente do que eu costumo escrever.

Nasci em uma geração pós-Friends, e fui profundamente marcada por isso, assim como muitas pessoas que eu conheço. Nós somos aqueles que não amadureceram com eles, porque quando a série acabou éramos adolescentes ainda, nós não nos sentíamos um deles, eles eram modelos para o nosso futuro. A questão ali não era só o humor, as piadas, as situações engraçadas, era a amizade, o companheirismo. Quem não gostaria de compartilhar ao começo da vida adulta com os seus melhores amigos? Quem não gostaria de ter com quem contar nas horas difíceis sem ter que correr para os pais? Quem não gostaria de ter segurança em um grupo de pessoas que te apoiariam, mas que ao mesmo tempo saberiam fazer piada de tudo aquilo? Friends representava o processo de transição perfeito entre a vida com os pais e a constituição da própria família. Era a independência, liberdade, sem a insegurança de estar sozinho, ou de ter que cuidar de outras pessoas. Era saber que qualquer situação poderia ser encarada com humor ao invés de dores de cabeça. Era o sonho de qualquer adolescente.
Acredito que assim como eu, a maioria acreditava que seria apenas isso, um sonho. Em uma realidade brasileira onde a maioria só sai da casa dos pais para se casar, dividir um apartamento com amigos parecia meio estranho, distante demais. Alguns dos que tinham que sair de casa antes para trabalhar ou estudar relatavam como uma parte difícil da vida morando com pessoas desconhecidas. Para mim Friends não passava de uma ilusão.
Foi aí que eu tive uma boa surpresa da vida. Tive que morar na cidade vizinha para fazer faculdade. As primeiras experiências realmente foram próximas ao que eu esperava, uma tortura. Um obstáculo a vencer para poder estudar. Até que fui conhecendo pessoas que pareciam ter os mesmos ideais que eu, que tinham a mesma vontade de fazer a convivência dar certo e ir além. Nós seis (sim! Totalmente Friends) que nos demos tão bem conseguimos encontrar um apartamento para dividir e os dias que seguiram foram de uma felicidade que iria além de qualquer imaginação. Tudo que eu buscava encontrei ali: amizade companheirismo, apoio, diversão, motivação.
Essa é a minha vida agora, a melhor fase de transição. Cada dia é uma coleção de risos uma aprendizagem em conjunto, uma troca de experiências onde a minha vida não é só minha é compartilhada com pessoas que se importam, que dividem amor.É repleta de piadas do Chandler, de futilidades da Rachel, de viagens da Phoebe, de obsessões da Mônica, de nerdices do Ross e de cantadas do Joey.
É uma experiência repleta de sentimento, aquela ligação abstrata e incrivelmente forte que havia entre eles é perceptível onde eu moro. O lugar onde tudo se resolve, onde o choro vira riso, onde vidas que nunca se encontrariam fazem todo o sentido porque estão juntas.
Pode parecer boba, mas sou apaixonada por essa letra: i'll be there for you

terça-feira, 14 de setembro de 2010

A fim de te acompanhar

E de repente a gente começa a ver sentido de novo em músicas que falam de amor, de paixão. Aquelas mesmas que nós achávamos tão bobas, tão fora do real, coisa de quem não vê o mundo de verdade, coisa de quem não viveu o fim de um relacionamento.

Besteira! Ilusão nossa achar que quem sofreu sabe de tudo, que a felicidade está guardada só para aqueles que ignoram a dor, que ela só acontece uma vez na vida.

Cada pessoa que conhecemos é um novo mundo, cada novo contato mil possibilidades, cada relacionamento outras músicas.

E assim a gente redescobre o gostinho de flutuar ao invés de andar, de sonhar ao invés de pensar, de dançar ao invés de se mexer e de ouvir melodia ao invés de barulhos.

A gente volta a acreditar em magia, em coincidência, em destino, em vidas pessadas e no outro.
escrito por quem ouve: ensolarado, presente para a T. que me presenteou com a história que me inspirou, e que está ouvindo: o último romance.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Azar e sorte

Queimar o almoço é azar.

Chegar na hora que ônibus vai sair é sorte.

Não encontrar na festa a única pessoa que você queria ver é azar.

Fazer um comentário sobre a festa na frente da pessoa certa é sorte.

Não ver a ligação da pessoa que você mais precisava na hora é azar.

Receber uma mensagem surpreendentemente boa pela manhã é sorte.

Beber para ficar alegre e passar mal é azar.

Beber para ficar alegre e não sentir efeito nenhum também é azar.

Beber para ficar alegre e beijar quem não devia é porque você tem fogo mesmo.

Beber para ficar alegre e chorar é porque você é meio depressivo.

Acreditar que em todas as outras situações você teve sorte ou azar é observar muito pouco a vida.

sábado, 11 de setembro de 2010

Bloqueio

As formas de tentar contornar e as fugas são infinitas. Os motivos também são muitos, pouca é a coragem para admiti-los. Remoer as questões, pensar, tentar achar um motivo, uma razão só travaram a escrita.

A pressão de tentar o melhor me consumiu. Saber que outras pessoas liam me fez querer agradá-las. Só faz sentido escrever pra mim, só eu fico desapontada, só eu preciso encarar as minhas besteiras. As minhas inúmeras inseguranças, abertas, expostas, óbvias em cada palavra que eu escrevo, em cada texto, me deixando vulnerável a cada pessoa que possa estar atenta. Infelizmente não sei escrever sem me doar, sem me colocar no papel.

Nas minhas fugas, tentei escrever sobre os outros, sobre sentimentos alheios, testei outros horários, mudei meu ambiente, busquei inspiração no cenário, achei que a solução poderia ser a estética na produção, nada disso funcionou.

Nas minhas tentativas eu percebi que só escrevo para combater os meus medos e fugir deles é o mesmo que me bloquear.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Para quem serve a arte?

A arte só serve pra pessoas que choram.

A arte só serve pra pessoas que precisam esquecer alguém.

A arte só serve pra pessoas que não agüentam a vida.

A arte só serve pra pessoas que querem extrapolar a realidade.

A arte só serve pra pessoas que sentem curiosidade.

A arte só serve pra pessoas que querem sentir prazer.

A arte só serve pra pessoas que querem lembrar.

A arte só serve pra pessoas que vêem beleza na vida.

A arte só serve pra pessoas que sofrem.

A arte só serve pra pessoas que precisam fugir do cotidiano.

A arte só serve pra pessoas que querem dizer algo e não conseguem.

A arte só serve pra pessoas que querem conhecer outros mundos.

A arte só serve pra pessoas que precisam se conhecer.

A arte só serve pra pessoas que..., pra pessoas.

domingo, 15 de agosto de 2010

Reflexões na pista de dança

Dançando...

Lama no pé, suor no corpo, fumaça no cabelo, sabão na alma.

Alma lavada, alma suja, alma livre, sem alma, existe alma?

O efêmero que satisfaz, que alegra, não tem finalidade, mas faz todo o sentido.

Fugindo...

O coração seguindo o ritmo da música é melhor que o coração apertado, soltar o corpo é melhor do que deixar ele parado, a mente em branco é melhor do que ela cheia de vozes que não se encontram, estar fora de si é melhor do que estar preso em si.

Às vezes a culpa é melhor que o medo.

Vivendo.

Você é

Milhões de pessoas que existem dentro dessa palavra.

Assim como o EU também podem ser muitos.

Não há construção de história, não há sentimentos sem nós dois, seja lá quem formos.

O que eu gosto mesmo é de falar pra você, nem que esse você seja eu, afinal eu também preciso ouvir certas coisas.

Vamos conversar todos nós, você, eu e essas três ou quatro vozes na minha cabeça.

Todos nós precisamos ouvir.

Todos nós precisamos nos expressar.

Todo mundo precisa escrever e ser escrito.

Somos todos passíveis de ser musa e poeta.

Você e Eu, somos os únicos personagens de qualquer história.

É só escolher em qual se encaixar.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Narrativas

Ela depositou todos os seus sonhos em alguém mais uma vez. Ele parecia tanto com um príncipe encantado, ele agia como um, falava como um, era o mais próximo que ela havia visto de um, então ela se convenceu de que ela o havia encontrado. Ela só esqueceu que príncipes não existem, e por trás do seu conto-de-fadas só poderia haver drama ou comédia, era só escolher, talvez um pouco de conto erótico, tudo dependia pra onde ela iria levar.

Cansada dos contos eróticos, dos dramas e das comédias ela se esforçou pra protagonizar um romance, mas não reparou que ninguém a veria como a mocinha e era tarde demais pra mudar uma história cujo começo já estava escrito.

Seu príncipe partiu seu coração, mas ela insistiu, confundiu coragem com cabeça-dura e achou que era uma heroína. Se convenceu de que outra que era a vilã, loiras sempre são, e não olhou direito para o seu personagem. Na segunda gafe do príncipe ela viu seu conto destruído e os rumos de drama que a estória havia tomado. Pensou em todas as possibilidades, inclusive em transformá-la em roteiro de telenovela mexicana, como choros, escândalos, exposições e nomes compostos, mas ela não suportaria uma dublagem mal feita da sua vida. Então percebeu que aquele conto de fadas, sem príncipe, sem princesa, sem seres encantados, na verdade não era. Chegou no máximo a ser um piloto de seriado americano, um projeto falido. Nem ela investiria na sua estória. Cansada desses gêneros resolveu abandonar e ir atrás de algo novo.

Quem sabe um dia sua vida se transformaria em poesia.

Passagens da madrugada

Pá! O barulho alto de algo pesado caindo, e todas as pessoas, aproximadamente uma dúzia, no ônibus se viram para olhar. Às três horas da madrugada é normal encontrar bêbados em qualquer transporte púbico, mas ninguém esperava ver o corpo de um homem adulto no meio do corredor, porque acabara de cair do banco na curva. Alguns segundos de silêncio pra poder entender o que estava acontecendo, e um jovem que estava sentado no banco de trás se levanta pra ajudá-lo, e o homem que estava sentado ao lado do bêbado também se coloca no serviço de devolvê-lo ao lugar. O corpo mole e obediente se aninha feliz, apoiado no corpo do seu companheiro de banco, um homem grande que ocupava mais que a parte do espaço que lhe cabia.
Antes que todos voltem aos seus assuntos normais da viagem, mais alguns segundos sem se olhar pra poder controlar o riso, a desgraça do outro não deveria ser engraçada, mas era. A cada curva o corpo balançava, e todos olhavam, até que perceberam que nada mais ia acontecer e o bêbado deixou de ser o entretenimento. Mas aquela era sua noite, ganhou mais uma vez a atenção quando pegou o celular e começou a falar uma mistura de sílabas, aonde poucas se tornavam palavras. A sorte do alvo da ligação era que provavelmente ele não tinha conseguido discar os números. O celular e a mão viraram o recheio do sanduíche que ele fazia com a cabeça e o ombro e permaneceram assim mesmo depois que ele havia desistido de emitir sons.
De volta as conversas, até o novo: Pá! O riso de descrença veio antes dessa vez. O jovem do banco de trás mais uma vez se levantou para ajudar, assim como outro rapaz de um banco mais afastado. O companheiro do bêbado dessa vez estava dormindo. O novo tombo era mais preocupante, o rosto foi direto no chão. Quando foi levantado era possível perceber a roupa imunda e o rosto machucado. As dores que ele sentiria assim que o álcool deixasse de fazer efeito não faziam nem cócegas no momento. Tentando evitar outra queda os dois rapazes o colocaram no banco do outro lado que estava com os dois lugares vazios. Difícil foi arranjar um lugar pra colocar o celular que havia voado para longe, pois o dono estava incapaz de segurar, por fim acharam um bolso e deixaram ali.
E quem disse que bêbado não sente nada? É um estado no qual o emocional aflora e a pessoa fica extremamente carinhosa/carente. Nem cinco minutos depois que o sujeito foi deixado no banco ele acordou, percebeu a solidão e voltou para compartilhar o banco apertado com o seu companheiro. Para se certificar de que permaneceria ali, entrelaçou o seu braço no dele, e apoiou a cabeça no seu ombro. E assim ficaram até o ponto final. Chegando ali o jovem cutucou os dois para que se levantassem. Eles apenas se mexeram, mas continuaram ali, um entorpecido casal.
- Será que ele vai tentar lembrar como conseguiu esses machucados amanhã? – perguntou uma das garotas que estava com o jovem.
- Espero que não lembre. Dos efeitos do álcool, a amnésia é o melhor.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Uma menina boba

- Não seja tão boba. – o sorriso no rosto dela morreu.

- É inevitável.

- Você poderia pelo menos não ser tão inocente, tão simples. – a expressão dele dava sinais de irritação como se estivesse falando de um animal que fazia muito barulho.

- Não entendo sua paixão pelo complicado. É insatisfação isso? – um sorrisinho pra tentar salvar o orgulho.

- Olha quem fala, como se você estivesse muito satisfeita com a vida.

- Pelo menos eu estou tentando deixar ela mais simples.

- Mentira! Você só esta perto de mim porque eu sou mais complicado do que você e isso te faz sentir bem. – ela reclamou mentalmente por ele ser tão esperto e por ela ser tão fácil de entender.

- Você é azedo. – saiu assim como uma constatação óbvia, não como uma reclamação ou uma acusação.

- E você é doce demais. – no mesmo tom.

- Quem diria...

- As pessoas enxergam aquilo que querem, nunca menti pra que pensassem diferente. – ela podia visualizar um cigarro na mão dele, pra completar o ar de indiferença, isso se ele fumasse.

- Isso não quer dizer que foi verdadeiro. – mais um sorriso triunfante.

- Está vendo, você não é tão boba, se esforce mais. - ele se levantou. – Um bom dia pra você, preciso ir agora. – maldita educação! Enquanto ele saía da sala, os únicos movimentos que ela fez foram com os lábios, sem emitir som, mas que diziam claramente F-U-C-K-Y-O-U.

domingo, 11 de julho de 2010

Não adianta procurar pelo príncipe encantado se você não é uma princesa.

domingo, 4 de julho de 2010

Fonte seca

Você tirou até minha vontade de escrever, de tão sem poesia que você é. Nada de profundo, nada, nada de belo, nada que possa ser expresso, nada disso há em você.

Você abafa meus sentimentos, sufoca minha paixão, mata o meu lirismo.
Como é possível que você possa roubar minhas palavras, meus pensamentos, minha inspiração?

Se eu não me forço me entregaria de novo ao vazio que há ao seu redor, seria sugada pelo buraco negro de idéias e estaria mais uma vez presa na sua superficialidade.

Sua presença seca minha alma e deixa no lugar um corpo árido e estéril.
E o que mais me revolta é que até mesmo esses efeitos, você ignora.
E eu sinto que está sem final.

Cold Shoulder

Certas músicas nos lembram alguns momentos, já outras músicas nos fazem criar momentos:


Corpos ainda juntos, suados, cansados. Uma conversa descontraída, com poucas palavras, própria praquele momento, até que:
- Só não se acostuma tá.
Ela se afasta, pra olhar melhor com uma cara de indignação e surpresa, porque aquela frase do nada? Ele continuou:
- Você vai ter que dividir.
Pro ar pretensioso dele ela soltou uma gargalhada. E falou com um sorriso que só podia ser chamado de safado.
- Eu não tenho problemas em dividir, se você também não tiver. Até porque nunca falamos em exclusividade.
Silêncio. Mais alguns minutos e se levantam vestindo a roupa. Ele tentando decifrar a reação dela, e ela com a melhor cara de que nada aconteceu, mas por dentro querendo matar aquele idiota insensível. Porque jogar na cara? Ele também tinha que dividi-la, mas ela fazia questão de esconder. Ele estava cada vez mais incomodado com o silêncio do ritual de arrumação:
- Tudo bem? No que você está pensando?
- No meu brinco que eu perdi agora.
- É só um brinco.
- Mas eu gostava muito dele, se você achar meu brinco de pena depois me avisa.
Seguiram pra casa dela, conversando mais uma vez como se nada tivesse acontecido. Conversavam sobre questões filosóficas sobre a vida e sobre o que acreditavam ser características pessoais. Como dois amigos ou apenas conhecidos, exatamente como ele sempre a tratava fora do quarto. Apesar dos seus sentimentos ela já havia aceitado. No entanto ele tinha necessidade de reforçar esse afastamento com palavras. Chegaram na frente da casa dela, prontos pra despedida, quando mais uma vez ele abriu a boca pra machucar:
- Se tudo der certo eu vou estar namorando na quarta-feira.
- Como assim tudo der certo?
- Eu vou encontrar minha ex-namorada, e vou pedi-la em namoro de novo, ainda não a esqueci.
- Acontece. – O que ele queria ouvir? Boa sorte?
Despediram-se, quase como se fossem amigos. Ele querendo afastá-la, ela querendo matá-lo. Um nó na garganta dos dois. Não entendiam como podiam ser tão frios.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Degelo


"I never loved nobody fully
Always one foot on the ground
And by protecting my heart truly
I got lost
In the sounds "
Foi de fora pra dentro o processo.
Demorou anos, e exigiu um trabalho duro.

Toques quentes, beijos ardentes, momentos fervorosos,
e o coração de gelo foi derretendo.
No lugar restou uma massa pulsante, ardente, vermelha
com necessidade de ser alimentada pelo calor externo.

Fica a saudade de quando ele podia existir sozinho,
de quando o gelo ao redor protegia de tudo,
de quando paixão e romance eram palavras de livros bobos
e o frio e a solidão eram uma certeza.


Ouvindo: Fidelity - Regina Spektor

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Perseguição

Corro atrás loucamente da desilusão. Persigo onde ela estiver.

Por mais que ninguém imagine que ela vá estar lá, eu sinto seu cheiro, eu farejo, e encontro nos lugares mais improváveis.

Antes mesmo de saber onde estou, parece que meu coração me guia até ela e me leva a mais um encontro inesperado.

Quando a encontro me agarro a ela não sei por que, apesar das dores, abraço forte, e quando sinto que ela vai começar a arrancar pedaços, eu a deixo ir. Deixo que fuja, que corra na frente, na esperança de nunca mais nos esbarrarmos.

Começo a andar por lugares onde ela nunca passou pra não correr o risco, acho um caminho que parece seguro, e lá está ela de novo, senhora daquele espaço, esperando por mim, esperando por mais alguns longos dias juntos.

sábado, 26 de junho de 2010

Lições (1) - 10 segundos

Eu só vou se você me olhar.
É só conseguir manter por mais de dez segundos. Não é muito.
Vamos fazer assim, eu olho cinco segundos e você mais cinco, só que um é obrigado a sustentar o olhar do outro.
E tudo que for necessário será dito e o que não, será feito.
Só primeiro os dez segundos.
Do contrário ficamos os dois parados, cada um na sua. Eu não sei de você, nem você de mim, saímos com mais dúvidas do que quando chegamos. Saímos sem a troca de mundos possível.
Pela falta de dez segundos.

Sorry

Choro, grito, sinto a dor, sofro, o mundo parece pior, o problema sem solução e a angústia com aquele jeito de que eu vou levar sempre comigo.

Então o tempo passa.

Tudo parece tão tolo, fútil, vazio. Nada daquilo era real. Sinto-me ridícula pelas horas gastas pensando, pelas lágrimas derramadas e pelos ouvidos alugados.

Era raso, mas eu senti!
Era fugaz, mas eu senti!

Perdoe-me se pareço excessiva
Se eu pudesse evitaria,
Mas eu sinto.
Sinto demais
Sinto muito.

domingo, 6 de junho de 2010

Aparências

Tira o short rasgado, a blusa caída, no lugar um vestido comportado de cor morna.

Toma um banho tira o cheiro de cerveja e suor e deixa o cheiro de sabonete e hidratante.

Lava a maquiagem borrada, o rímel preto escorrendo, põe por cima uma maquiagem clara, esconde qualquer marca e cria uma aparência saudável.

Troca os acessórios pretos e modernos, por um par de brincos delicados.

Só deixa as cores, o vermelho no cabelo e nas unhas, marcas do que faz, mas que passa desapercebido com uma cobertura tão bege e marrom por cima.

Se apega aos detalhes deixados pra não esquecer de si.

E se conforma com as horas de ser outra.

Transforma aquilo que é naquilo que deveria ser.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Bad


Desejo

É tudo que eu sinto quando vejo você, não precisa ser pessoalmente, não precisa nem ser uma foto, a sua imagem já está gravada na minha mente.

Mente, diz que não me quer também! Eu sei que chega a doer em você, mais do que em mim. Pra você é tão errado, é tão impuro, enquanto pra mim é tão natural é instintivo.

Pra mim é "I want you so bad".
Pra você é "I wanna do bad things with you".

Relaxa.
Só uma vez sente o ar ficando mais denso, sente o mundo se movendo mais devagar, percebe que ao nosso redor está mais quente.

O mal só existe se você pensar nele. Se você sabe o que me provoca, se eu sei o que te causo, porque não fazer o certo?

segunda-feira, 31 de maio de 2010

O meu grande amor

Ele disse que somos quase a mesma pessoa.

Não concordo.

Se existisse outra pessoa igual a ele o mundo seria perfeito.

Mas eu fico orgulhosa de estarmos tão entrelaçados a ponto de ter acesso total aos seus pensamentos, assim como é só pra ele que todos os cantos da minha mente são acessíveis.

Ele tem todo o amor que eu posso dar, que é muito menos do que ele merece.

E ele é feito só de dar amor.


“Você, pra mim, mostrou
Que eu não sou sozinho nesse mundo.”

A espera do inesperado

É muito frustrante viver um padrão, pelo menos pra mim.
Eu que nos últimos anos me acostumei a ter noite (raramente dias) fora de tudo que eu tivesse planejado.
Eu traçava planos, saia de casa com uma idéia na mente, e acontecia tudo diferente, ou ia muito além dos meus planos.
Acostumei-me a esperar o inesperado, me acostumei com a idéia de que cada ocasião traria o novo e o louco, até que se tornou uma necessidade.
E hoje só há uma palavra pra descrever como eu me sinto: frustrada.
Não agüentei ouvir os mesmo discursos, ver as mesmas coisas, sentir só o morno. Por favor, me surpreendam!
O meu vício é o novo, novas experiências, novas sensações. Essa crise de abstinência está me matando.
Já forcei muitas situações para suprir esse meu vício, mas e quando não há mais situações para serem forçadas?
Só me resta essa participação quase apática da vida, e uma demonstração mínima do que eu posso ser.

sensações do dia 21/05/2010

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Todas as cores

Vem, pode entrar!

Você vai gostar da minha casa, tudo aqui é branco, como deve ser.

As paredes são brancas, os móveis são brancos, olhe meu quarto, perfeitamente alvo, como o seu.

O que fica preto eu jogo logo fora, e o cinza você sabe muito bem que não existe.

Essa porta? É um quartinho, está muito bagunçado, não entra não!

Não!

Eu avisei...

Como assim o que é isso? É o que você está vendo... tudo nesse quarto é colorido.

Nã o adianta mais fingir que não vê, eu tentei evitar essa situação, nem todos estão prontos para isso, ainda mais você que nem o cinza consegue ver, tem a certeza de que é tudo preto e branco.

Eu já esperava essa reação, nem todos conseguem lidar com a existência de outras cores, mas acredite elas estão em todos os lugares, dentro da casa de muita gente, até de quem você não imagina. A sua casa é cheia de tons de cinza, você que não vê.

Como eu sei disso? Quando a gente treina o olhar consegue ver todas as outras cores, elas estão na sua frente, mas você se recusa a ver. Olha pra mim! De que cor eu sou?

Não! Eu sou vermelha. Um dia você entenderá o que isso significa. Um dia você verá como eu sou realmente.

Não fuja!

Se você se permitisse teria uma cor tão bonita...

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Voltar

Acho mesmo que eu deveria voltar a escrever. Não é isso que eu gosto de fazer? Não valorizo tanto as palavras? Se me emociono com o que leio também devo me emocionar ao escrever.

É difícil voltar, me falta a prática, me falta inspiração, até um pouco de técnica (que já não era das melhores) me falta. A minha volta vai além dessas faltas, falta a coragem de me expor. O que eu escrevo é tão pessoal, é tão profundo, que eu tenho medo de me revelar. O que me restará de privacidade se meus pensamentos forem abertos? Se eu não deixar nenhum suspense ninguém terá curiosidade sobre mim.

Apesar do medo voltarei! Por hora não vou mostrar o que escrevo. Vou esperar que meu material fique bom, vou espera ficar satisfeita com o que eu escrevo. Vou esperar um pouco mais de mim.

Texto escrito por mim em agosto de 2009, hoje eu decidi que estou pronta pra mostrar.